Poetas em tempos de penúria

2ª Fase da Pesquisa [2023-2025]

Para as entrevistas realizadas entre 2023 e 2024, foram selecionados pesquisadores, artistas e gestores culturais, tanto no Brasil como no México. Além de observar a experiência dos entrevistados sobre a temática abordada na pesquisa, acatei indicações de outros participantes, adensando a rede de contatos e as conexões entre eles. 

As entrevistas foram realizadas a partir de roteiros semiestruturados, o que permitiu que fossem adaptadas para cada interlocutor, conforme o rumo das conversas. Os roteiros das entrevistas realizadas no Brasil foram mais sucintos, tendo em vista a familiaridade dos interlocutores com o tema abordado. Já o roteiro das entrevistas realizadas no México tinha também o objetivo de apresentar o cenário das políticas culturais brasileiras, de modo a incentivar o diálogo e obter elementos para comparação entre os países.  

A partir das conversas, foram obtidas novas perspectivas sobre problemas que são comuns aos dois países: o fortalecimento mútuo que emerge dos raros encontros bem-sucedidos entre as políticas públicas, a participação cidadã e as instituições democráticas; as disputas socioculturais e políticas que atravessam as sociedades latino-americanas, tornando ainda mais complexos os mecanismos de fomento à cultura e às artes; os problemas crônicos, como a pobreza e a violência, que muitas vezes nos impedem de perceber outras urgências; e as contradições presentes nos processos de institucionalização da cultura, que acompanham as oscilações dos estados nacionais entre o autoritarismo e a ausência.

As entrevistas, transcritas e editadas, podem ser acessadas abaixo. Também estão disponíveis dados e estatísticas comparativos entre o Brasil e o México.

Entrevistas
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Alessandro Azevedo

apresenta-se como “fazedor de cultura”, “ator, palhaço” e “militante cultural”. Diz que sempre atuou “nos fronts de luta, reivindicando políticas públicas para a cultura”. No momento da entrevista, era coordenador do escritório do Ministério da Cultura em São Paulo (SP).

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Inti Queiroz

é produtora cultural. Diz que começou a atuar na área musical, mas que, ao longo de trinta anos, já passou por diversas linguagens. Escreveu uma tese de doutorado sobre o Sistema Nacional de Cultura. Deu aulas na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e na Universidade de São Paulo (USP). No momento da entrevista, era assessora da Deputada Federal Samia Bomfim.

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Adriana Malvido

é jornalista cultural. Foi uma das fundadoras do jornal mexicano La Jornada. Diz que sempre se interessou pela relação entre as artes e a sociedade. Também escreve e publica livros. Algumas de suas obras são: La Reina Roja, el secreto de los mayas en Palenque (CONACULTA, 2006), El joven Orozco, cartas de amor a una niña (Lumen, 2010) e Intimidades más allá del amor (Paralelo, 2022). No momento da entrevista, era colunista do jornal El Universal.

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Eduardo Cruz Vázquez

é jornalista. Conta que sua “bandeira contra o vento e a maré tem sido estudar e compreender a realidade do setor cultural mexicano, visto por três grandes componentes: o público, o social e o privado”. É autor do livro Vislumbres del Sector Cultural (UANL, 2024). Em 2009, fundou, com alguns colegas, o Grupo de Reflexión sobre Economía y Cultura (GRECO).

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Lorenzo Portillo e David Estrada

são atores e diretores teatrais. São fundadores e sócios do teatro de bonecos El Rincón de los Títeres, espaço independente na cidade de Xalapa (Veracruz). Uma placa no corredor de acesso à plateia do teatro confirma sua vocação: “buscamos a liberdade em cada criação artística e assumimos a grandiosa responsabilidade de libertar os bonecos em cada sessão com a esperança de que cada humano faça o mesmo com sua vida”.

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Orlando Elorza

é doutor em antropologia pela Universidade Autônoma Metropolitana (UAM). Entre 2019 e 2020, passou nove meses no Brasil, fazendo intercâmbio na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Realizou uma pesquisa comparativa entre os espaços culturais da região da Luz, em São Paulo, e da Colônia Guerrero, na Cidade do México.

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Alexandre Barbalho

é professor dos programas de pós-graduação em Sociologia e em Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará e do programa de pós-graduação em comunicação da Universidade Federal do Ceará. Conta que começou a pesquisar políticas culturais quando iniciou o mestrado, em 1994. É autor de livros e artigos sobre o tema.

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Lia Calabre

é historiadora. Ela conta que chegou ao governo federal em 2002, por meio de um concurso para servidores da Fundação Casa de Rui Barbosa: “foi quando Mário Machado decidiu criar o setor de políticas culturais”. No momento da entrevista, era chefe do Serviço de Pesquisa em Políticas Culturais da Fundação Casa de Rui Barbosa.

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Ahtziri Molina

é socióloga. Professora e pesquisadora no Centro de Estudos, Criação e Documentação das Artes, da Universidade Veracruzana (Xalapa, Veracruz). Conta que, desde a graduação, procura conhecer “como é formada a comunidade artística”, quais são “as implicações para seu trabalho” e “como se estrutura o campo para que a sobrevivência do artista nesse espaço seja possível”.

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Eduardo Nivón Bolán

é antropólogo e professor do Departamento de Antropologia da Universidade Autônoma Metropolitana (UAM). Conta que começou sua carreira trabalhando “com temas urbanos, relacionados à periferia e, em seguida, com temas mais próximos à cultura, aos estudos sobre cultura urbana”. Desde 2013 é coordenador do programa de pós-graduação em Políticas Culturais e Gestão Cultural da UAM.

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María Minera

apresenta-se como “filha de gente de teatro”. Estudou história da arte, mas não se dedicou à pesquisa acadêmica. Atua como crítica de arte e conta que, nos últimos anos, vem se dedicando a pensar e a escrever sobre as políticas culturais e a entender “as complicações de um país como o México”.

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Per Anderson

nasceu na Suécia, mas vive no México desde 1970. É professor da Universidade Veracruzana, em Xalapa (Veracruz). Há 15 anos, fundou o Museu Vivo do Papel, em Coatepec (Veracruz), espaço independente que reproduz técnicas tradicionais de produção de papel, tinta e prensa para a litografia.

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Álvaro Santi

é servidor aposentado da Secretaria de Cultura de Porto Alegre (RS), onde trabalhou por 26 anos. Conta que colaborou na execução da Lei Aldir Blanc em seu município. Fundou e dirigiu, por cerca de dez anos, o Observatório da Cultura de Porto Alegre. No momento da entrevista, era Conselheiro Estadual de Cultura.

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Pedro Vidal

é pintor profissional. No momento da entrevista, ocupava a presidência do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Teresina (PI). Em 2021, iniciou sua pesquisa de mestrado, que tem como objeto as políticas culturais.

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Daniel Aguilar

é artista visual. Nasceu no estado de Guanajuato, mas atualmente vive e trabalha na Cidade do México. Segundo ele, suas atividades envolvem “o aspecto da produção de arte”, “como artista ou como criador, mas também como gestor, trabalhando com administração de espaços ou organização de eventos”. É um dos sócios do espaço cultural independente Bikini Wax EPS.

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Esther Hernández

é pedagoga. Iniciou sua trajetória profissional trabalhando com alfabetização em comunidades indígenas e, também, em comunidades urbanas periféricas. Trabalhou no programa Jovens Criadores, do Fundo Nacional para a Cultura e as Artes (FONCA) e na Direção de Culturas Populares e Indígenas do Conselho Nacional para a Cultura e as Artes (CONACULTA). No momento da entrevista, era Diretora Geral de Vinculação Cultural da Secretaria de Cultura do México.

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Mariana Aymerich

é administradora e produtora cultural. No momento da entrevista, era Diretora Geral de Promoção e Festivais Culturais da Secretaria de Cultura do México. Estava trabalhando na programação do 52º Festival Internacional Cervantino, do qual o Brasil foi convidado de honra.

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Tomás Ejea

é sociólogo, mestre em teatro pela Universidade Estadual de Nova York, mestre em história da arte pela Universidade Nacional Autônoma do México e doutor em sociologia política, com especialização em políticas culturais pela Universidade Autônoma Metropolitana Azcapotzalco, onde atua como professor e pesquisador há quarenta anos. É autor do livro Poder y creación artística en México (UAM, 2011), em que analisa o Fundo Nacional para a Cultura e as Artes

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Daniele Canedo

é capoeirista, produtora e gestora cultural. Também é professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Na entrevista, disse que dá aulas nos cursos de “política e gestão cultural”, “produção musical”, “música popular brasileira” e “tecnologias do espetáculo”.

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Thiago Rocha Leandro

é formado em direito pela Universidade Federal de Pernambuco. Iniciou seu percurso profissional na assessoria jurídica da Fundação de Cultura de Pernambuco, mas acabou se envolvendo também com a gestão. No momento da entrevista, era Diretor de Assistência Técnica a Estados, Distrito Federal e Municípios da Secretaria dos Comitês de Cultura do Ministério da Cultura.

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Alejandro Schwartz

é bailarino. Iniciou seus estudos no estado mexicano de Veracruz, mas, ao longo de sua carreira, já atuou em diversos lugares, entre eles o Brasil, onde viveu durante um ano, apresentando o espetáculo El Hombre de la Mancha. Também foi diretor da Escola Nacional de Dança, do Centro Veracruzano de Artes e do Centro Cultural Atarazanas. Por um breve período foi titular da pasta de cultura do município de Xalapa (Veracruz).

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Ernesto Piedras

é economista formado pelo Instituto Tecnológico Autónomo de México (ITAM) e doutor em economia pela Escola de Ciências Econômicas de Londres (Inglaterra). É especialista em análise de mercado, regulação em telecomunicações e estudos do valor econômico das indústrias culturais. É autor do livro ¿Cuanto vale la Cultura? (CONACULTA, 2004).

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Mishelle Muñoz

estudou administração na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e fez mestrado no King’s College, em Londres (Inglaterra). Foi assessora da Câmara dos Deputados da Cidade do México. É uma das fundadoras da cooperativa Pasaporte Cultural, que atua no mapeamento dos espaços culturais independentes do México.

Dados e estatísticas

Além das entrevistas, foram analisados dados quantitativos que ajudam a compreender a Lei Aldir Blanc no contexto das políticas públicas para a cultura e as artes no Brasil, dimensionando seu alcance e comparando com outras ações do Governo Federal.

Os repasses da Lei Aldir Blanc foram realizados por meio do Fundo Nacional de Cultura (FNC), que faz parte do Sistema Federal de Cultura brasileiro. Em 2022, o Fundo recebeu 51,5% do orçamento destinado ao Sistema.

Gráfico 1. Porcentagem referente à Função Cultura no orçamento de despesas do Governo Federal Brasileiro

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados disponíveis no Portal do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento. Disponível em https://www1.siop.planejamento.gov.br.

 Gráfico 2. Porcentagens referentes às funções Cultura, Educação e Saúde no orçamento de despesas do Governo Federal Brasileiro

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados disponíveis no Portal da Transparência. Disponível em https://portaldatransparencia.gov.br/.

Historicamente a função cultura do governo federal brasileiro era inferior a de outros países da região, em especial, o México. No entanto, a criação da Lei Aldir Blanc, em 2020, da Lei Paulo Gustavo e da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura, em 2022, vem alterando o cenário (Gráfico 3). 

Gráfico 3. Comparação histórica entre a função “cultura” dos orçamentos federais brasileiro e
mexicano, com e sem as leis emergenciais executadas no Brasil entre 2020 e 2022, em milhões de
dólares.

Fonte: elaborado pela autora.

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados disponíveis em https://www1.siop.planejamento.gov.br/painelorcamento

As novas leis também podem alterar a configuração do orçamento público para a cultura no Brasil, historicamente mais concentrado nas administrações municipais e estaduais (Gráfico 4).

Gráfico 4. Despesa total com cultura no Brasil, nas instâncias federal, estadual e municipal, entre 2012 e 2022.

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do IBGE, disponíveis em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/multidominio/cultura-recreacao-e-esporte/9388-indicadores-culturais.html.

Para comparação, no México, o governo federal é responsável por cerca de 60% do investimento público em cultura (Gráfico 5).

Gráfico 5. Porcentagem federal, estadual e municipal da dotação orçamentária para a cultura no México, entre 2008 e 2023.

Fonte: Grupo de Reflexión sobre Economía y Cultura (Grecu), disponível em: https://pasoli-bre.grecu.mx/estructura-porcentual-del-gasto-ejercido-de-la-gestion-publica-en-cultura/.

Espera-se que a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura impulsione também as adesões ao Sistema Nacional de Cultura e a federalização das políticas culturais. Contudo, as estruturas estaduais e municipais ainda são incipientes (Gráficos 6, 7 e 8)

Gráfico 6. Porcentagem de municípios brasileiros com plano municipal de cultura.

Gráfico 7. Porcentagem de municípios brasileiros com fundo municipal de cultura ou similares.

Gráfico 8. Porcentagem de municípios brasileiros com conselho municipal de cultura, por número de habitantes.

Considerando esse cenário complexo, os entrevistados apontam, como principais desafios das políticas culturais: a continuidade das ações, a boa administração dos recursos públicos e, principalmente, a participação democrática, sem a qual os avanços impulsionados pela Lei Aldir Blanc não teriam sido possíveis (Gráfico 9).

Gráfico 9. Nuvem de palavras: projeção de cenários para as políticas culturais brasileiras. 

Fonte: Fonte: elaborado pela autora com recursos do site https://www.wordclouds.com/

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