Canclini na Cátedra

Entrevista com Andreia Duarte, realizada por Sharine Melo, pela ferramenta Zoom, em 22 de março de 2021.

[Sharine] Estou trabalhando em uma pesquisa com o Prof. García Canclini, sobre a Lei Aldir Blanc. Estou pesquisando os movimentos em rede, principalmente os artistas e a sociedade civil, que se articularam com o Congresso, com os políticos, para implementação da lei. Não só os processos burocráticos da lei, mas essa movimentação social e política. Falei com os articuladores da lei e, agora, estou começando a falar com os artistas que foram beneficiados ou que, de alguma forma, participaram. Entrei em contato com você porque estamos falando muito dos artistas, das linguagens ou da cultura de um modo geral. Há populações de indígenas, quilombolas, que também foram beneficiadas pela Lei. Eu fiquei pensando como poderia ter acesso a essas pessoas[1] e lembrei de seu trabalho. Você morou no Xingu, não é?

[Andreia] Sim.

[Sharine] Consegui conversar com dois moradores de comunidades quilombolas e com um indígena do Maranhão, que mora uma comunidade Guajajara. Só que ele ficou sabendo da lei, mas não conseguiu se inscrever. Nós conversamos bastante. Ele falou sobre sua cultura, mas não especificamente sobre a Lei Aldir Blanc. É sobre isso que queria conversar com você: sua experiência como artista, sua experiência com a lei. E, se você souber alguma coisa sobre essas populações e puder contribuir… Vou pedir para você contar um pouco de sua história para começarmos a entrevista.

[Andreia] A Naine Terena, que é uma Terena[2], mora no Mato Grosso, fez um encontro que se chama Etnomídia por meio da Lei Aldir Blanc. Também estou vendo um amigo meu, que está fazendo um evento com o pessoal de Manaus, do Centro de Medicina da Saúde Indígena de Manaus. Há um evento do Luiz David, que começa hoje. Ele está fazendo com o pessoal do Centro de Medicina e de Saúde. Foi um projeto da Lei Aldir Blanc. Ele é não indígena, mas está fazendo o projeto com indígenas. A Naine Terena é indígena. Eu acho que ela está fazendo um projeto todo com indígenas, não sei se ela também convidou uma equipe não indígena. Mas eu sei que ela teve apoio da Lei Aldir Blanc. Com certeza, há mais indígenas que conseguiram apoio. Há muita coisa indígena online. Eu conheço muitos, mas não sei se todos têm financiamento da Lei.

[Sharine] Você pode contar também sobre esses projetos que você conhece. Mesmo que não sejam da Lei Aldir Blanc, podem ajudar na pesquisa.

[Andreia] Vou falar dos meus projetos. Continuo trabalhando com indígenas. Estou trabalhando muito vinculada a artistas indígenas contemporâneos. Estou em uma fase em que trabalho com líderes indígenas, também com artistas indígenas. Mas, como artista, muitas vezes, estou vinculada ao projeto. A Lei Aldir Blanc era só estadual ou não? Havia ações do município também?

[Sharine] É descentralizada, na verdade. Há editais dos municípios e editais dos estados.

[Andreia] Eu aprovei, pelo município, um projeto que se chama Antes do Tempo Existir. É um projeto em que chamo três artistas indígenas para estarem em cena comigo, fazerem um espetáculo comigo. Ele tem também uma trilha sonora indígena. A provocadora/ dramaturga é a Naine Terena, que é indígena. Há indígenas e não indígenas para a criação do espetáculo. Eu aprovei uma parte do projeto – o projeto é bem maior – por meio do município. Aprovei mais dois projetos. Um dos três é um livro, que vamos publicar. A Naine Terena também está na organização comigo. É um livro sobre teatro e povos indígenas, com 22 textos. Todos têm autoria indígena e alguns têm autoria dividida entre indígenas e não indígenas. Aprovei um projeto, uma mostra artística, que faço com Ailton Krenak, que se chama TePI – Teatro e Povos Indígenas. Eu trabalho muito com o Krenak. Essa mostra artística é muito mais cara porque é um festival de dez dias, só de quem vincula produção corporal e estética indígena. Também tem a participação de não-indígenas, cruzando assuntos que interessam à questão indígena. Nós aprovamos uma parte da mostra. Na verdade, iríamos fazer no ano passado pelo SESC. Mas, com a pandemia, não conseguimos. Já estava tudo aprovado, passagem comprada… Uma parte desse projeto foi um livro Antes do Tempo Existir, o TePI. Na Primavera das Artes, pelo Município, fiz uma projeção chamada O olhar da onça, que foi composta por palavras e frases de artistas e intelectuais indígenas: Davi Kopenawa, Sonia Guajajara, Ailton Krenak e vários outros… Trocamos com eles e construímos uma projeção. Acho que a projeção tinha oito minutos; foi em looping durante horas. Acho que foi durante uma noite inteira. É isso. Foi muita coisa por meio da Lei Aldir Blanc. Foram esses três projetos bem basilares.

Estou fazendo outros projetos também, que não são por meio da Lei. Eu faço um doutorado na USP, em teatro, que fala desse cruzamento entre artes cênicas e os povos indígenas. Toda a minha referência teórica textual é indígena. Eu só trabalho com indígenas. E faço também um livro com Krenak. O próximo grande livro, um livro maior que ele está fazendo, eu estou fazendo com ele. É isso tudo, Sharine.

[Sharine] É muito legal! Você sabe dos projetos que têm indígenas. Todos os seus projetos, que estão na Lei Aldir Blanc, têm participação de indígenas. Então, você pode falar um pouquinho sobre eles… Mas a proposição não foi dos indígenas…

[Andreia] É isso. A autoria, a primeira proposição não é deles. É um monte de projetos, um monte de coisas. Minha vida é isso, sempre foi. Eu não sei o que você quer perguntar, exatamente, sobre a Lei Aldir Blanc. Alguma pergunta mais específica?

[Sharine] Para nos organizarmos, você poderia contar sobre sua experiência, falar de sua formação, rapidamente, para podermos nos situar na entrevista. Você poderia contar sua experiência com os indígenas. Depois vamos entrando na Lei Aldir Blanc.

[Andreia] Eu trabalho há 20 anos com povos indígenas. Morei por cinco anos no Parque Indígena do Xingu, com o povo Kamayurá. Durante esse período e mais um “tantão de tempo”, por mais de 14 anos, eu fiquei muito vinculada a esse povo. Fiz vários projetos educacionais, sociais, culturais. Há oito anos vim para São Paulo. Vou cada vez mais ampliando esse lugar e indo para o trabalho de relações entre a arte, os povos indígenas e o teatro. Tenho uma experiência maior na linguagem do teatro, mas não quer dizer que eu só faça isso. Hoje estou trabalhando muito como artista, mas também faço curadoria de eventos, produção quando é necessário, pesquisa… Sempre fazendo o cruzamento entre arte e povos indígenas.

Digo, para fazer logo uma determinação. Em minha pesquisa, há um interesse menos vinculado à linguagem – apesar de ter essa experiência maior com o teatro – e mais vinculado a uma ideia da criação como transformação de mundo. Para mim, é muito importante compreender como os povos indígenas lidam com a arte, que está no dia a dia, não está vinculada necessariamente ao mercado, mas está sempre em uma potência de transformação e de criação. Esse é um aspecto muito importante na minha pesquisa, talvez seja central hoje em dia, essa ideia de transformar o mundo por meio de estéticas, de ideias que também são políticas, que também transformam experiências. Tenho uma produtora, que se chama Outra Margem. Por meio da Outra Margem, tenho desenvolvido esses projetos. Mas também faço, fora da produtora, trabalhos de consultoria, entrevistas, publicações de livros. Eu fiz um espetáculo, um experimento cênico com o Krenak. Estamos publicando a dramaturgia. Faço muitas coisas nesse lugar mais ampliado. Acho que há uma fluidez maior, menos determinada por funções e mais determinada pelo ato, pelo que vem, pela ação que vem. É isso que eu sou.

[Sharine] Muito bacana! Você poderia falar, então, da relação dos indígenas com a arte, dessa potência de transformação. É bonito o que você falou.

[Andreia] Isso é algo em que acredito demais, que eu vejo demais. Claro, para falar de indígenas, é sempre bom começar do básico, não por você, mas por todos nós, por uma questão lógica de que os povos indígenas sofreram um processo de invisibilidade cruel com a colonização, o que levantou muitos preconceitos e discriminação. Isso fez com que as pessoas não conhecessem a diversidade, a pluralidade dos povos indígenas no Brasil. Quer dizer, hoje temos, de acordo com o censo de 2010, 305 povos auto-declarados, mais de 170 línguas faladas.

[Sharine] Não é uma cultura, são várias.

[Andreia] São muitas as culturas indígenas, mas falo sobre a existência ou sobre a noção de arte, sobre a noção de Terra ou sobre a noção de Ser, não de Ter, a partir das referências que tenho aprendido cada vez mais na vivência com vários líderes intelectuais e artistas de diferentes povos. Falo também a partir de valores que são comuns a esses povos. Há noções de territorialidade expandida, noções de Ser, muito mais do que de Ter. É sempre bom pontuar essas complexidades para não parecer que estamos generalizando. O mundo capitalista está aí e atinge todos nós. Isso também significa que há indígenas que sofreram – gosto de pensar assim – esse processo de colonização e que, por esse contato, também resolveram ter outros valores que talvez não sejam os valores originários de suas comunidades, o que não os faz menos indígenas, mas os faz mais envolvidos com o processo desenvolvimentista, capitalista, explorador, que é contra eles mesmos. Acho que são coisas importantes de determinar. Para falar sobre a noção de arte indígena, acho muito importante situar essas relações. Senão parece que estou generalizando.

Há algo coincidente na produção estética, que sempre será política, porque não existe estética que não tenha um sentido, que não tenha um porquê. Na minha pesquisa e nos meus estudos, mas também na escuta, na convivência com esses povos, com os representantes desses povos, eu percebo que são valores de uma produção artística que está na vida. Essa é a primeira questão. Falar de arte não é falar de mercado, originalmente. Estou pensando na comunidade. Dentro da comunidade, você se pinta, você produz uma cesta, você produz tudo com muitos símbolos, com muitos sentidos coletivos. Isso era algo que me afetava profundamente, quando morei com os Kamayurá, porque vivi ali um tempo da vida mais afetivo do que o tempo da urgência, o tempo de pagar conta, o tempo do trabalho, da loucura, do consumo. Acho que há outro tempo da vida ali. Mas também há uma relação deliciosa: “vamos dançar e cantar? Amanhã vai ter festa? Vamos tocar uma flauta?” Acho importante ver que há uma beleza estética naquela flauta que tem um sentido cosmológico. Você não está ali todo dia pagando sua conta, indo trabalhar, querendo comprar seu apartamento. Isso muda muito a relação temporal-espacial. Acho que é o primeiro ponto ao falar sobre a arte.

Já em um contexto dos indígenas que se entendem como artistas, muitos estão posicionando sua vida no mundo das redes sociais, no mundo das galerias, das instituições – acho que é algo que pode se contrapor a esse lugar. Estão se posicionando como artistas, estão produzindo arte. Estão pintando e colocam sua arte no Facebook e colocam sua arte no Instagram, vão para festivais, pintam muros na Europa, fazem performance em Manaus, produzem poesia, produzem literatura. A Naine Terena – que foi curadora de uma exposição que se chama Véxoa, que aconteceu na Pinacoteca – fala uma frase de que gosto muito: “qualquer arte que eu faça sempre será indígena porque eu sou indígena”. Esse é o primeiro ponto. Mas o mercado determina: “vamos situar o artista indígena, contemporâneo”. Ao mesmo tempo, é uma forma de salvaguardar a representatividade dos indígenas dentro do campo artístico. Também há um movimento dizendo: “nós estamos fazendo arte indígena contemporânea.” Claro, existem os artistas que se identificam mais com poesia. Então, eles também falam: “eu faço poesia indígena”. Existem aqueles que se identificam mais com arte visual: “eu faço arte visual”. Mas existem também aqueles, muitos deles, que falam: “eu não estou vinculado a nada disso. Não sou artista plástico. Não sou artista de teatro. Sou artista. Faço o que eu quiser. Vou para o cinema. Do cinema, vou para o teatro. Do teatro, vou para artes visuais”. Entende? Ele não está determinado por esses quadrados que são muito institucionais.

Isso é uma briga minha com todos os editais. Os editais, muitas vezes, por defesa jurídica, por processos burocráticos, ficam o tempo todo determinando: este é um edital de artes plásticas, este é um edital para grupos de teatro, este é um edital para artistas de teatro, este é um edital para dança. Há uma defesa jurídica, burocrática, e uma tentativa de garantir que todos estejam incluídos em uma possibilidade de financiamento, de fundo. Ao mesmo tempo, é muito limitante. Às vezes, há artistas que perpassam todos esses lugares, não estão presos a grupos. Acho que os artistas indígenas muitas vezes estão atravessando esses lugares. São quatro pontos muito importantes para entender a arte indígena, mas também o lugar dos artistas indígenas, que trazem tudo isso que estou falando. Muitas vezes atravessam linguagens, não estão presos ao quadrado. Muitas vezes posicionam-se de uma forma muito autônoma.

É legal que as instituições, os festivais e as mostras financiem seus trabalhos, mas eles não deixarão de fazer por causa disso. Eles estão fazendo de uma forma autônoma. A produção artística está na vida deles. Isso é muito determinante para seu trabalho. Acho que existe, por outro lado, essa questão que já sabemos: o protagonismo indígena, a representatividade, o lugar do Ser em todos os espaços. Há essa necessidade de visibilidade porque sabemos que a história indígena é uma história de negação, do ponto de vista colonial, do ponto de vista político. Mas também há um outro ponto. A percepção indígena sobre o mundo – de novo, falo sobre a percepção indígena respeitando as diferentes culturas, mas percebo que há várias repetições e vários lugares comuns entre essas culturas – está muito mais ligada à natureza. Ela não está ligada à natureza. Ela é natureza. Ela se entende como natureza. Isso muda muito a forma como ela é lida no mundo, o estar no mundo, seus parceiros. Isso faz uma reviravolta. A arte sempre tem esse lugar.

[Sharine] Estou lendo o livro de Davi Kopenawa[3]. É impressionante. Eu demorei, algumas partes li várias vezes. Por mais que eu trabalhe com cultura, por mais que tenha alguma noção das etnias, para nós, que estamos mais na área urbana, que trabalhamos mais com as linguagens artísticas, é difícil entender a relação que eles têm com a natureza.

[Andreia] Há uma relação cosmológica muito profunda, uma percepção. Mas, ao mesmo tempo, há essa noção muito singular de que a existência é “uma”, de que não existe animal, homem, essas grandes diferenças, plantas… Tudo é a vida.

[Sharine] Sim. Você está falando dos indígenas que têm alguma projeção na área cultural, como, por exemplo, o Kopenawa, o Ailton Krenak… E os que ainda vivem em aldeias? Na semana passada, por exemplo, falei com um indígena que mora em uma comunidade no Maranhão. Ele tem que pegar uma canoa para chegar à cidade. Eles têm também uma produção artística. Ele estava sabendo da Lei Aldir Blanc pelo celular, pelo WhatsApp. A internet chega à aldeia. Como é a relação com esses povos que estão mais afastados? Esse indígena, por exemplo, estuda. Ele faz faculdade, curso de direito. Ele vai para a cidade, volta… E ele me diz uma coisa interessante: “não há diferença entre a cidade e a aldeia indígena.” Como eles transitam entre as instituições da cidade e da aldeia mais afastada?

[Andreia] Eu não sei em que contexto ele falou que não há diferença entre a cidade e a aldeia. Mas o que eu vejo é: há muitas comunidades que estão mais isoladas, dentro das florestas. São muitos contextos. Cada contexto é diferente. Eu morei no Parque Indígena do Xingu, no Alto Xingu, com o povo Kamayurá. É longe. Hoje em dia o acesso é mais fácil porque abriram estrada. Mas é uma estrada que existe há três anos. Hoje eles têm internet, têm acesso. Na época em que morei lá, não havia nem banheiro. Havia rádio, mas não havia internet, não havia nada disso. Imagina! O acesso era difícil. Chegar à cidade era muito difícil. Vale dizer que, dentro de uma comunidade, elas não são plasmadas. Há muitas vidas diferentes. Tem gente que não tem acesso à internet, que nunca terá, mas que é um grande cantor ou um grande sábio, de raiz, raizeiro. Há aquele jovem que está super entusiasmado, que está querendo ir para a cidade. Ele quer trocar, quer andar por aí. Vai e volta. Conta tudo para a comunidade. Isso é muito comum. Os jovens saem muito. Eles têm esse desejo enorme de troca. Mas voltam para suas comunidades e continuam fazendo seus rituais, vivendo ali dentro. Não é que ele vá mudar para a cidade. Também tem gente que muda para a cidade. Tem de tudo. Então, pensar em editais é algo muito complexo. Em qual língua, por exemplo? De que maneira? O conhecimento da leitura, da escrita, é uma técnica como qualquer outra. Você vai aprender a fazer uma cesta, vai aprender um canto… Às vezes, há cantos que duram oito horas. Você vai aprender a fazer um ritual. Isso tem muito valor ou até mais valor do que aprender a ler e escrever, dentro da concepção originária. Só que o aspecto colonial implica em precisar ler e escrever. Por que estou falando isso? Além de tudo, o português é a segunda ou a terceira língua. Às vezes, a pessoa fala Kamayurá, Waurá, Yawalapiti[4] e vai falar português depois. Não é uma questão de intelectualidade, de capacidade. Isso não tem nada a ver. É uma questão de contato, de necessidade de comunicar. É lógico que eu, que estou na cidade, com internet, que estou fazendo doutorado, estou em um lugar privilegiado, do ponto de vista capitalista. Porque a vida deles também é privilegiada do ponto de vista do tempo que eles têm, do prazer, do espaço, de outras relações com o corpo, de outros entendimentos aos quais dou muito mais valor. Então, como os editais são pensados? Até que ponto eles realmente chegam dentro das comunidades? Até que ponto a pessoa que está ali na comunidade para parar para escrever um projeto?

[Sharine] Sim. Foi isso que ele me relatou. Ele falou: “eu fiquei sabendo do Edital. Alguém da Secretaria de Cultura me colocou em um grupo de WhatsApp e eu fiquei sabendo da Lei Aldir Blanc. Até participei, dando alguma informação, alguma coisa assim. Mas ninguém me ajudou a escrever o projeto. Se tivessem mandado alguém para me ajudar a escrever, talvez eu tivesse mandado”.

[Andreia] Essas comunidades não foram programadas, como nós somos programados, para escrever projeto. Eles estão aprendendo a nadar, a pescar. Estão aprendendo outras coisas também. Mas é isso: até que ponto esses editais chegam? Você faz um edital todo online e acha que uma comunidade dessas vai ter acesso? Nunca. Mesmo que tenha, não vai escrever porque não sabe, porque a internet cai. É um absurdo, porque é uma política pública “meia-boca”.

[Sharine] A Lei Aldir Blanc foi pensada para chegar a essas comunidades todas. Mas, por essas questões, acaba não chegando. 

[Andreia] Quem dera se fosse só esse o problema. Muitas vezes, há um problema de gestão. Você chega à ponta, a essas comunidades, às cidadezinhas que estão próximas à comunidade e há muito preconceito com os povos indígenas. Nem existe secretário de cultura. Às vezes é uma secretaria de educação à qual a cultura está vinculada. Não entendem o conceito de cultura. Acham que índio é aquele que está ali enfeitando e ocupando o espaço, que talvez se beneficie porque é uma reserva ambiental e a prefeitura ganha algum dinheiro a mais por isso. Como sempre, há muitos casos de muitos preconceitos, muita discriminação. Você chama o índio para fazer uma fala no WhatsApp, para colocar na Aldir Blanc, para que aquela prefeitura, aquela secretaria, fale assim: “nós chamamos. Nós colocamos os dados de que precisamos”. Mas dizer que realmente chegou?

Acho que é importante ter esses dados para saber quantos indígenas conseguiram fazer o projeto. Muitas vezes é um indígena urbano, que foi para a escola, que enfrentou todo o processo de aprender uma segunda língua, de aprender uma cultura tão diferente de sua cultura originária, fez uma faculdade. Está tudo certo, está tudo bem. Não há questionamento. Mas, às vezes, esse edital só vai servir para esse perfil, não para a maioria dos indígenas que estão dentro das comunidades. A verdade é esta: a maioria está dentro das comunidades.

[Sharine] Já que estamos pensando em várias culturas, em vários níveis diferentes, os que estão mais isolados nas comunidades e os que estão fazendo parte da cultura mais urbana, podemos dizer assim, como o Krenak, como o Kopenawa, que estão publicando livros, fazendo obras de arte… Qual a relação deles com as instituições culturais?

[Andreia] A primeira coisa é dizer que não existe. Vou voltar à Naine. Ela fez a curadoria da Véxoa na Pinacoteca. Foi uma exposição que ficou quatro meses em cartaz. Foi a primeira exposição com 24 artistas indígenas, na Pinacoteca, que é um dos museus mais antigos de São Paulo, do Brasil. A Naine é doutora. É professora da PUC. Mas isso não significa nada em relação a sua comunidade. O que quero dizer com isso? Ela continua sendo Terena. Dentro da sua comunidade, ela continua dançando e cantando. Estou fazendo esse alinhamento porque nem sempre a pessoa que sai da comunidade e tem uma formação perde o vínculo originário. Essa é uma primeira questão.

A segunda questão é que nem sempre o que a pessoa conquistou fora da comunidade tem um grande valor para a própria comunidade. Ela chega lá e é mais uma Terena. O Davi Kopenawa e o Ailton Krenak talvez tenham essa importância para nós. Mas quando o Davi Kopenawa vai para sua comunidade, ele é mais um lá dentro. O Krenak é mais um lá dentro, apesar da importância que, com certeza, eles têm dentro da comunidade porque ajudam a garantir seu direito de existir, em todos os sentidos, na terra, em todas as suas lutas. Eu acho que essas instituições cada vez mais estão trazendo os indígenas – tardiamente, mas ainda bem que há algum movimento em relação a isso. Já trazem há algum tempo, mas, pensando no processo histórico colonial de 520 anos, tardiamente, essas pessoas, esses representantes de diferentes povos indígenas estão entrando nas instituições. As instituições também, a partir de uma ampla militância, histórica, que é sim dos povos indígenas, dos negros, das mulheres, dos quilombolas, mas que também veio apoiada por políticas públicas, como aconteceu no governo do PT…

[Sharine] Gilberto Gil, Juca Ferreira…

[Andreia] Todos eles, apesar das grandes dificuldades e de não existir um orçamento importante para o que é a cultura, até mesmo pelo tanto que a cultura retorna financeiramente, dentro dos valores econômicos. Você, que é da Funarte, sabe os benefícios que a cultura dá para a sociedade. Se pararmos para pensar, os processos históricos desses sujeitos, desses ativistas, também ajudam, com o governo do PT, a protagonizar as militâncias, por meio de várias políticas. Nos anos de 2020, 2021, nesses anos que estamos vivendo, cada vez mais existe um protagonismo dessas pessoas. Quando você vê todas essas lutas por protagonismo, por representatividade, o famoso lugar de fala, tudo isso vem de um processo histórico por meio das redes sociais, por meio da organização dos povos indígenas, das associações, dos grupos de mulheres, de artesãs, de coletivos, da rádio Yandê, que é uma rádio online indígena… Enfim, de todos os povos, de todas as organizações que vêm batendo de frente.

Chega uma hora – cada vez mais está chegando, às vezes ainda muito limitada, mas está chegando – em que as instituições se veem em um lugar assim: “há uma responsabilidade social de abrir espaço, mas, também, se eu não abrir espaço, vou levar ‘uma porrada'”. É o que rola nas discussões. As redes sociais trazem muito isso. Elas dão voz para falar o que quiser. Não só isso. Estamos trazendo alguns exemplos. Mas há muitas questões quando esses valores e essas comunidades entram nas instituições porque são cheias de regras. As instituições são cheias de burocracia, de limites, até em seus próprios espaços. Há muitos conflitos nessas relações: quanto elas pagam, o quanto elas permitem a esses artistas estarem ali, em quais espaços. Será que pagam o mesmo para um artista indígena e para um artista europeu? Estou dando poucos exemplos, mas há muitos valores a serem questionados. Está havendo uma abertura tardia, mas “antes tarde do que nunca”.

[Sharine] Com certeza. E ainda há uma coisa do símbolo, das pessoas acharem que o índio é aquele anda com uma tanguinha, que tem o cocar. As pessoas não entendem toda a complexidade. São várias culturas, não é uma cultura só, como você falou. E, é lógico, os indígenas estão por ai, fazendo faculdade, têm acesso à internet, estão vivendo no mesmo mundo que a gente. Então, também há essa questão na instituição.

[Andreia] Na verdade, é muito importante entender isso que você acabou de falar. Comecei falando sobre invisibilidade social e retornamos para a invisibilidade o tempo inteiro. As instituições têm isso. Esse tipo de organização é muito influenciada por tudo isso que já sabemos, por todo esse processo colonial. O que marca esse processo de exotismo, que é o que você acabou de falar? Para mim, há duas grandes questões. A primeira vem desde os processos de pinturas, de Debret, que pintava os índios vendo a missa, no processo de colonização, com os católicos jesuítas chegando e os índios mansos assistindo. Quer dizer, existe uma ideia construída na sociedade brasileira de que índio é aquele que é o bom selvagem. Só é índio quem está na floresta. Quando esse índio sai da floresta – porque é contemporâneo, não é passado – e vem para a cidade, não é mais índio para a sociedade. É muito cruel e muito violento o tipo de discriminação construída nesse processo, que o invisibiliza o tempo todo. Se ele está na cidade, não é índio. Quando está na floresta, é passado, vive lá como um selvagem. É uma construção que está muito marcada na subjetividade do brasileiro e que tem tudo a ver com todos esses processos: o que é a sociedade brasileira, o que é a nação, quais são os valores no processo educacional, da criança que aprende, de onde ela veio. Quais são esses valores? É mais fácil uma criança saber onde está a Alemanha do que saber onde está a Amazônia? Eu me pergunto isso. Ou saber quantos povos indígenas há, quantos países europeus há, ou africanos. Vamos ampliando a discussão.

As instituições também têm todas as responsabilidades, sejam elas públicas ou privadas. O Itaú Cultural é financiado por quem? Não é um banco que está o tempo inteiro dando dinheiro para ele. É financiado por políticas públicas, como a Lei Rouanet. Quais financiamentos o SESC recebe? Eles têm uma obrigação social de entender e de se posicionar perante à sociedade de uma forma muito mais expandida, com um pensamento muito mais expandido, entender e se posicionar mesmo para acabar com tudo isso, acabar com o racismo, com a discriminação, com o preconceito, para informar. Hoje em dia, cada vez mais, estão existindo editais que trazem a percepção indígena, a percepção negra, a percepção feminista, todas essas questões de que estamos falando. Mas ainda é muito pouco. É um absurdo o quanto você paga a um artista europeu para construir um espetáculo. Não vou falar nomes porque participo de festivais. Há espetáculos que custaram um milhão de reais, três milhões. Por que isso não pode ser aplicado para os povos originários, para os povos indígenas, para as pessoas das periferias? Que seja por uma questão racial, que seja por uma questão de gênero, é muito mais importante reconhecermos os povos originários e acabarmos com esse tipo de relações que, na verdade, estão o tempo todo determinando quem está no poder.

[Sharine] Não sei como está seu tempo, mas acho que poderíamos nos encaminhar para o fim da entrevista, falando um pouco mais dos projetos que você fez pela Lei Aldir Blanc e sobre a importância da lei. Não sei se você participou de toda a articulação ou se só se inscreveu nos editais. Qual a importância do financiamento da lei para esses projetos? Você falou, mas poderia detalhar um pouco mais.

[Andreia] Na verdade, ainda estou fazendo. Não terminei nenhum deles porque não fui contemplada em nenhum edital que exigisse entrega em abril. Achei uma pena porque ficamos massificados de informação, de festival, de eventos, durante esses quatro meses. Talvez uma pessoa que participou da construção do edital saiba explicar melhor. Mas acho que quanto mais financiamento para a cultura e a arte, melhor para todo mundo. Veja o que as pessoas estão fazendo dentro de casa. Sabemos que as pessoas estão assistindo a filmes, lendo livros. Elas estão trabalhando? Estão trabalhando. Mas há a necessidade de criar o tempo inteiro. É o que estou falando. A arte transforma seu olhar em relação à imagem, em relação ao espaço, em relação ao tempo. É criação de mundos. Estou falando de uma forma generalizada para dizer que, quanto mais editais para financiar, alcançar todas as pessoas que quiserem participar, melhor. Não estou interessada em linguagem. Quero que as pessoas ganhem edital, que as pessoas produzam arte. Por quê? Porque esses editais foram criados em um contexto de urgência, de emergência. Nós somos essa grande parcela da sociedade brasileira que acabou no primeiro movimento: não podemos fazer nada, não podemos fazer espetáculo, teatro, festival. Tudo virou online, essa “chatura” do online – eu acho, pelo menos. Tem muita coisa legal, muito acesso, mas também muita coisa impessoal. Fica essa tela aqui. Me propicia conversar com você, mas não dá o afeto do encontro, do toque, que eu acho tão importante e que leva a outra temporalidade, outra relação.

Mas acho muito importante. Acho que a Lei Aldir Blanc tem que continuar para sempre. Quanto mais investimento em cultura e arte, melhor, mais possibilidades de transformação teremos, mais alcance teremos. Falo pela experiência de estar há mais de vinte anos trabalhando com arte e cultura. Você vê como transforma as pessoas. Você entende melhor. Você tem mais crítica do lugar onde está, tem mais coragem de criar outras formas de estar. Isso é muito importante para pararmos com essa ideia de que só existe uma possibilidade de vida: esse programa de nascer, estudar, trabalhar, comprar uma casa e morrer. Acho a Lei Aldir Blanc importante, especialmente porque financiou muitos projetos. Não sei a quantidade porque estou mais na direção artística dos meus projetos. Eu tenho parceiros que são produtores e eles saberiam explicar melhor em qual lugar eu fiquei no edital. Mas, para mim, se houvesse quinhentos inscritos, eu queria que os quinhentos fossem aprovados, dentro de uma ética, é óbvio. Uma ética do conjunto e que consiga entender a diversidade das pessoas nos seus contextos. Se um proponente escreve três projetos, não preciso aprovar os três, eu aprovo um. Se é um edital de literatura e o proponente quer construir uma casa, você não vai aprovar. É óbvio, dentro de uma ética. Mas que cada vez mais traga possibilidades para que as pessoas realizem seus desejos de vida, de criação e suas obras. Que os quilombolas consigam suas manutenções, que os indígenas consigam… Que tenha movimento feminista, trans, homossexual… Que seja todo mundo! É isso que eu acho!

[Sharine] Que bom! Conta um pouquinho mais sobre os projetos, então… Você falou que foram três…

[Andreia] Eu aprovei o projeto Antes do tempo existir. Ainda estamos tentando financiamento. Não foi totalmente aprovado, só uma parte. Vamos criar um espetáculo. Estarei em cena como artista, como atriz, junto com artistas indígenas. A ideia é trazer os artistas indígenas para a cena. Tenho vários interesses como artista. O primeiro é um posicionamento político, perante as instituições, as mostras artísticas e os festivais, de que os indígenas estão em todos os lugares, estão em todas as linguagens, performando. Também vamos olhar para isso. Depois, há um lugar pessoal, que é a construção de uma experiência ao lado desses artistas. Para mim, será uma honra criar ao lado deles, estar ao lado deles. Eu me interesso profundamente por sua produção. Acho que é isso.

Também há um outro lugar que é a própria desconstrução do teatro, no sentido de que teatro não é só dramaturgia pronta, com personagem. Estamos fazendo uma coisa muito experimental, um encontro entre uma mulher não indígena branca e um indígena artista, que vem de um povo que tem sua cosmologia. Como faremos esse encontro? Queremos trazer uma ideia de que há uma importância da humanidade como espécie, da humanidade lutando pela vida planetária, de que todos nós fazemos parte. O espetáculo vai por esse caminho. Esse é um projeto.

O segundo projeto, que também já começamos, é um e-book para ser distribuído em todas as faculdades de teatro do Brasil. Tem 22 textos. Eu não lembro quantos autores são. Como falei no início, todos os textos são escritos por indígenas, mas alguns têm parceiros não indígenas. O projeto foi aprovado. O financiamento não é muito grande. Por isso vamos fazer um e-book. Mas também vamos fazer um e-book porque, para nós, neste momento, é mais interessante poder circular com o material. O posicionamento é o mesmo: a representatividade indígena tem que estar em todos os lugares, entre eles o teatro. Mas também há uma reflexão dos próprios indígenas, inserindo-se na cena. Como os indígenas estão se localizando na arte, na cena, para uma reconstrução ou um aprofundamento da história desse sujeito, neste momento, por meio do teatro? É apenas um campo artístico, mas que, na verdade, fala de tudo isso que estamos falando: de questões sociais, questões políticas de invisibilidade e representatividade por meio do teatro. Eu e a Naine Terena estamos terminando a organização do livro com a Naine. Já fizemos o convite para os 22 textos e para todos os autores. As pessoas já estão sabendo. A ideia é publicar em junho de 2021. O design, a arte, é também de um indígena Pankararu, que convidamos. Estamos fazendo esse projeto em parceria com a Editora N-1.

E o TePI, uma mostra artística que começou em 2018, como encontro, por meio de um financiamento do SESC, como patrocinador principal. Depois desse encontro de 2018, fizemos a proposta de uma mostra artística de dez dias para realizar espetáculos, performances, atos, rodas de conversa, workshops. É uma mostra de dez dias em que artistas indígenas e não indígenas discutem a construção do teatro e, também, todas as formas como nós, humanos, por meio da arte, podemos pensar na transformação do mundo. A humanidade está para além da humanidade; a vida está para além da humanidade. Nós nos interessamos por natureza, nós somos natureza. Estamos interessados por animal, por flor, por ar, por água, por rio, por tudo isso. TePI é essa mostra artística que iríamos realizar em 2020, como falei, também com indígenas Mapuches, com indígenas peruanos, com outros indígenas. O livro tem uma artista Mapuche, do Chile; também tem um artista indígena do Equador, que vai fazer uma escrita.

Para a mostra artística, conseguimos um financiamento, porém, quando escrevemos o projeto para a Lei Aldir Blanc, pensávamos que, no final deste ano, conseguiríamos fazer uma mostra presencial. Escrevemos em outubro do ano passado e esperávamos que, em novembro deste ano, conseguíssemos fazer uma mostra presencial. O andamento do ano pandêmico mostra que será muito difícil fazer algo presencial. Então, estamos tentando entender o que fazer, se vamos conseguir um adiamento. O desejo dessa mostra é que seja presencial. Podemos fazer uma plataforma, mas não é meu desejo, nem do Ailton Krenak. Ele não vê essa necessidade. Chama-se TePI: Teatro e Povos Indígenas, mostra artística. Vamos entender se há flexibilidade do edital para fazermos no outro ano ou se fazemos mesmo algo online. Ainda estamos entendendo. É isso.

[Sharine] Muito legal. Da minha parte, é isso. Você quer falar mais coisa sobre seus projetos, sobre a lei Aldir Blanc?

[Andreia] Não quero falar nada, Sharine. Que a pesquisa também reverbere em algo. É importante que chegue aos lugares, à Funarte, ao Governo, que chegue e mostre a importância de continuidade mesmo!

[Sharine] Sim, a Lei Aldir Blanc foi o maior investimento na área de cultura no Brasil, de todos os tempos. Não é pouca coisa.

[Andreia] Então é isso. Tem que continuar!

[Sharine] O que achei mais bacana da lei foi isso: saímos da compartimentação que havia antes, como você falou, do teatro, da dança, e conseguimos abarcar todas as linguagens, sem termos essas “caixinhas”. E os outros povos que, normalmente, estariam excluídos… Continuaram excluídos por essas dificuldades de que falamos: inscrição no edital… Mas chegamos bem mais perto de mudar o pensamento que temos em relação a outras culturas.

[Andreia] A crítica é construtiva. É isso. Queremos que continue. Nenhum desses editais vai me dar dinheiro. Vou ganhar pelo meu serviço. Todo mundo vai ganhar por seu serviço. Isso significa que terei condições de pagar minhas contas de um ou dois meses. Estou querendo dizer que nenhum desses editais enfia dinheiro em nosso bolso. Há pessoas trabalhando e recebendo honestamente. A verdade é que eles nos propiciam continuar. Eles nos propiciam estar em movimento, publicando, fazendo, realizando. Nenhum desses editais vai me permitir parar de fazer qualquer coisa que estou fazendo. Você sabe disso. Estou falando isso porque é importante pontuar essas coisas. O que é mais importante são essas possibilidades de realização. Isso dá ânimo para a gente viver.

[Sharine] Sim, ainda mais nesse período difícil. Era isso. Muito, muito obrigada! Aprendi muito!

[Andreia] É isso, querida! Que bom.

[Sharine] Obrigada! Boa sorte!

[Andreia] Para você também!

[1] Refere-se às dificuldades da pesquisa em trabalho remoto.

[2] Etnia indígena brasileira.

[3] Refere-se à obra A queda do céu, escrita em colaboração com o antropólogo Bruce Albert (Companhia das Letras, 2015)

[4] Idiomas indígenas brasileiros.

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